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terça-feira, 9 de abril de 2013

Tremula a Bandeira da Reforma



by Rodrigo Toledo

"Pois muitos que lá fingem ser operários do Senhor, simulando consertar a estrada do Rei, levam sujeira e esterco em vez de pedras, e assim pioram ao invés de consertar." John Bunyan, em A Peregrina

Estou olhando a liderança cristã brasileira de um modo diferente, se é que posso colocar minhas palavras dessa maneira. Os líderes convenceram-se de que, quebrando o termômetro, cura-se a febre. Convenceram-se de que não prestarão contas ao Senhor por ignorarem a correção, muitas vezes vinda de crentes mais novos na fé, mas que apesar da juventude são mais conhecedores do evangelho que a maioria dos lideres. 

Fiquei sabendo de um pastor em minha cidade que apelidou meu amigo de "luterinho". Acontece que esse meu amigo é pregador da neo-reforma, e por isso sofre esses ataques-espantalho por parte da liderança (vide "falácia do espantalho" no google), que tem grandes interesses em que a neo-reforma não aconteça. Eu costumava admirar o trabalho desse dito pastor, mas agora o vejo de maneira diferente.

Talvez você esteja lendo isso e se perguntando "mas por que precisamos de uma reforma em nossos dias? O que há de tão errado na igreja brasileira de nosso tempo?" Muito bem, quero que responda sinceramente a algumas perguntas:
1) Qual foi a última vez que viu um pastor tomar o púlpito e, numa demonstração de humildade cristã, pediu perdão a igreja por algum ensino errado trazido por ele?
2) Qual foi a última vez que presenciou um pregador exortando a igreja a abandonar aquele "folclore gospel" que diz que Deus cumprirá com os seus sonhos e planos? Quando foi que viu alguém ensinando a tomar o Reino de Deus como alvo e tesouro, estando disposto até mesmo a abandonar sonhos e projetos em prol do Reino, como fizeram nossos primeiros irmãos da igreja primitiva? 
3) Quando foi que viu, nos programas de tv ditos evangélicos, pastores e pregadores dizendo verdades amargas que o evangelho sempre disse, e que sempre são mascaradas por falsos-profetas, com o intuito de atrair a massa?
4) Qual foi a última vez que presenciou um pregador denunciando os abusos da teologia da prosperidade e do triunfalismo neopentecostal?

Desculpe-me caso discorde, mas nossas igrejas necessitam urgentemente de uma reforma. Sei de muitos que se posicionam contrários à neo-reforma, principalmente por acreditarem que o próprio Deus faria a tal reforma, caso fosse necessária. Esquecem-se, porém, que no passado não foi Deus, pessoalmente, em uma teofania, que visivelmente desceu do céu e apregoou a reforma. Homens esclarecidos nas escrituras, esses sim lutaram e derramaram o próprio sangue pela reforma. Amaram a igreja com atitude de reformador. Inspirados por Deus, confrontaram o ensino herético empunhando as Sagradas Letras. Ora, convençam-me de que em nossos dias teria de ser diferente! Por que nos séculos XV e XVI a reforma pôde ser feita por homens, mas no século XXI somente acontecerá se Deus descer do céu, entre as nuvens, com alarido e um exército de anjos, anunciando que seja feita? Será que não vêem que nos beneficiamos ainda hoje da reforma feita no passado? Será que não percebem que colhemos os benefícios de uma reforma feita por homens conhecedores das escrituras, que se rebelaram contra o sistema?

Sinceramente, cansei desse discurso protecionista de “Não mova um dedo, pois Deus fará a reforma se necessário”. Pergunto-me qual seria a reação dos reformadores todos diante de uma declaração dessas. 

Como podem ficar parados vendo pastores/pregadores escondendo a porção amarga do evangelho, “açucarando” a mensagem, afim de atrair dizimistas para suas denominações, afim de ostentar numericamente uma denominação, privando a membresia de ouvir o evangelho integral e de conhecer o autêntico cristianismo? Como podem se conformar em ver pregações triunfalistas de bênçãos, vitórias e milagres que, na maioria das vezes jamais irão se cumprir? E ainda dizem que nossas igrejas não precisam de uma reforma. Estúpidos, provarei o contrário!

Vejo gente que vem para a igreja, não por amar o Reino e entender o evangelho, mas porque aceitou o desafio de dar para receber cem vezes mais, num ciclo vicioso de buscar seus próprios interesses, e não os de Deus.

Vejo gente vindo para a igreja, não por estar olhando para a cruz de Cristo e vendo nesta o objeto de sua salvação, mas porque a própria igreja o recebeu muito bem, ao contrário do mundo que o rejeita. Então, frequenta os cultos pelo calor humano recebido, e não por achar em Cristo e sua cruz o seu verdadeiro tesouro.

Vejo gente que permanece na igreja, não por ter-se arrependido verdadeiramente de seus pecados, mas sim por receber desta a oportunidade de estar no comando de um grupo de pessoas, já que necessita chefiar para sobreviver psiquicamente. Não percebe que não necessita de liderar, e sim, de um médico psiquiatra. É um doente.

Vejo gente contando milhares de nano-milagres, do tipo “Deus providenciou uma vaga no estacionamento do shopping, no sábado a tarde”, não sabendo, porém, que Deus somente realiza algum milagre com o propósito de beneficiar diretamente o seu Reino, e não a nós mesmos. Com isso, vejo uma multidão que NUNCA recebeu um milagre, por desejar recebe-lo apenas para livrar-se da dor e do sofrimento, em vez de dispor-se a conformar-se com ideia de que talvez vá para a cova sem receber sequer um único milagre, pois somente o milagre da salvação lhe bastaria e lhe confortaria, sendo os demais milagres para a edificação da igreja a fim de fazê-la caminhar em direção ao alvo, em direção a Cristo. 

Vejo igrejas com visão totalmente distorcida de cristianismo, fazendo “evangelismo” sem falar de inferno e condenação, argumentando que a doutrina da condenação afasta em vez de atrair. Com isso, temos nas igrejas uma multidão que sequer tem noção do perigo que corre, caso não caia de joelhos diante da soberania de Deus, arrependido e clamando por misericórdia. Uma multidão alienada, que sequer sabe que, mesmo antes de ter nascido, já havia sido expulsa da glória e da presença de Deus. 

Vejo gente buscando autoajuda nas igrejas, por culpa de pregadores que não fazem outra coisa a não ser pregar autoajuda gospel, no intuito de transformar a mensagem da Palavra numa espécie de terapia para a autoestima. Conclui-se, então, que a massa evangélica acredita ser a mensagem cristã uma terapia que lhe melhora a autoestima, e não a mensagem de um Deus que quer tão somente que os homens tenham conhecimento de sua condição na eternidade seja lá de que lado estará. 

Vejo a liderança permitindo que a mensagem seja contaminada com heresias neopentéca, como maldição hereditária, prosperidade, triunfalismo e confissão positiva. Com isso, estão jogando sangue na água, contaminando-a. Pois não reclamem agora que os tubarões chegaram. Se não querem ser devorados, saiam da água.

Engana-se aquele que pensa que a reforma jaz na história junto aos túmulos dos reformadores. Engana-se quem acha que a reforma é apenas uma lembrança de um passado longínquo espelhado por gélidas pedras esculpidas em um muro em Genebra. E engana-se quem acredita que não mais existam homens dispostos a ir para a fogueira por causa da verdade. Enganam-se todos esses. Ouçam! O espírito da reforma ainda vive. E um espírito não pode ser calado ou trancafiado no sótão. A qualquer momento ele sai e, como um fantasma, aterroriza as mentes dos religiosos fascistas-hereges. 

Bem, quero aqui fazer uma convocação. Você que também está cansado da tirania da sua liderança em não admitir ser contrariada, mesmo estando errada; você que está desgostoso com sua vida espiritual, vendo lideres fascistas que te censuram por dizer a verdade e por conhecer o espírito do evangelho; você, que sabe que a igreja brasileira, como bem disse o pastor Paul Washer, se transformou num circo, e que precisa de reforma antes que seja tarde. 

Levantai, e vede. Eis que a bandeira da reforma já tremula no mastro de nosso século. O vento que a farfalha é nada mais que a verdade do evangelho autêntico. Voltemos, pois, as Escrituras, e ao cristianismo autêntico. E que venham os religiosos-fascistas-hereges, com suas fogueiras. Que acendam as tochas! Estamos preparados! Que venham com sua “dieta de Worms gospel”!

O pior pesadelo dos religiosos está se concretizando – o fantasma da reforma saiu do sótão!

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